O Jardineiro Espiritual
Traduzido de: Kabbalah Today issue #1
"Não há uma lamina de relva que não tenha um fado acima que a golpeie e lhe diga, 'Cresce'" (Midrash Raba 10:6).
Por muito surpreendente que pareça, os nossos passatempos de jardinagem reflectem as nossas raízes espirituais e podemos relacionar-mo-nos a eles por absoluto reflexo usando a sabedoria da Cabala.
E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie. --Génesis 1:11
O símbolo mais associado à sabedoria da Cabala é a Árvore da Vida.
A Cabala e todos os escritos da antiguidade estão repletos de exemplos do mundo vegetal. Escrituras Hebraicas antigas usavam as raízes espirituais da vegetação para explicar os processos do crescimento espiritual humano. Eles usavam-o como ferramenta pedagógica e nós podemos beneficiar dele usando-o para "criar uma base" com as nossas almas.
As palavras abaixo são baseadas numa carta escrita pelo Cabalista Rabi Baruch Ashlag, o primeiro filho e sucessor de Rabi Yehuda Ashlag, também conhecido como Baal HaSulam. Na sua carta, Rabi Ashlag explica aos seus estudantes que os trabalhos no campo reflectem processos espirituais e como os podemos experimentar.
Adão e a Árvore da Vida
Na Cabala, os termos, "natureza" e "Criador" são considerados sinónimos. O termo, "vida" é definido como estando em contacto com a natureza e seu Criador e a palavra, "árvore" pode ou simbolizar a "vida," ou seja contacto com o Criador, ou "conhecimento," compreendendo porque o Criador trabalha da forma que Ele o faz. Na verdade, o grau chamado A Árvore do Conhecimento é o grau espiritual mais elevado que uma pessoa pode alcançar.
A primeira pessoa a descobrir a Árvore da Vida foi Adão. Ele era uma pessoa vulgar que se sentiu inclinado a pesquisar e a descobrir o que se encontra para além do nosso mundo. Quando Moisés descreveu o que aconteceu a Adão, ele usou a imagem de uma árvore para descrever o relacionamento de Adão com o Criador. O Criador disse-lhe que ele podia comer de cada árvore no jardim excepto da Árvore do Conhecimento, reflectindo o último e único grau que Adão não conseguia alcançar.
O Criador sabia que se Adão descobrisse o conhecimento contido nessa árvore, ele iria querer deixar o Jardim, uma vez que ele saberia tanto como o Criador. Isto, por sua vez, iria desapega-lo do Criador - vida - e isto é porque o Criador o proibiu de comer daquela árvore. Todos sabemos o que aconteceu: Adão comeu e como resultado, é nos negado a todos a vida eterna prometida a Adão.
Mas nem tudo foi perdido. O Criador também nos deu escritos antigos que nos ensinam como podemos voltar ao Jardim do Éden. Ele também nos deu exemplos, que a Cabala chama "ramos." Estes ramos podem indicar como as coisas funcionam verdadeiramente. Se estudarmos os escritos juntamente com as explicações correctas, iremos compreender os processos espirituais que se manifestam em cada planta e iremos aprender a emula-los nas nossas almas.
O Que Moisés Pretendia Dizer
Pelo suor de tua cara irás comer o pão.
--Génesis 3:19
No tempo de Moisés, a espiritualidade era uma realidade tangível. Todos experimentavam o mundo espiritual, tal como experimentamos o mundo físico hoje. Naquele tempo, não havia a brecha que existe hoje entre nós e a espiritualidade. As pessoas de então não tinham de aprender a espiritualidade; elas viviam nela. Quando Moisés escreveu a sua Torah (Pentateuco), ele usou a linguagem falada do seu tempo para que as pessoas o compreendessem. A diferença entre os contemporâneos de Moisés e as pessoas de hoje é de que eles sabiam que ele estava a usar palavras mundanas para explicar conceitos espirituais, enquanto que pensamos que ele estivesse na verdade a referir-se ao nosso mundo físico. Sem dúvida, como poderíamos pensar o contrário? Nós não sentimos a espiritualidade da forma que os nossos predecessores sentiam.
É por isso que os Cabalistas referem a linguagem da Bíblia como "a linguagem das raízes e ramos." O nosso mundo é apenas a camada mais externa dos mundos espirituais; este é apenas uma casca, o ramo mais longínquo da grande árvore.
Para compreender totalmente a vida você deve explora-la onde ela acontece de verdade - nas suas raízes. Foi isto que Moisés explicou. "Pelo suor de tua cara irás comer o pão," ele diz-nos. Por outras palavras, se queremos comer (tornar-nos espiritualmente nutridos) precisamos de trabalhar (suar) por isso. Uma vez que o pecado de Adão, contacto com o Criador não é um dado adquirido; em vez disso, temos de o cultivar, usando todos os meios ao nosso dispor. E a prometida recompensa não tem preço: é o nosso acesso à Árvore do Conhecimento.
Jardinagem Espiritual
Pois é a árvore do campo um homem
--Deuteronomio 20:19
Tal como uma árvore, a estar prestes a dar fruto (espiritual), você e eu precisamos de experimentar o mesmo trabalho que fazemos nas árvores e plantas. Se enxertarmos, pulverizarmos, fertilizarmos, e capinarmos as partes das nossas almas que requerem cultivo, a nossa espiritualidade irá aumentar e preencher as nossas vidas com alegria. Se nutrirmos as nossas almas, iremos ser “como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha;” (Salmos 1:3). São apenas precisas algumas regras básicas para cuidar das nossas "plantas" internas.
Fertilizar
Como as plantas, os seres humanos não conseguem crescer sem fertilizantes. No Dicionário Webster “um fertilizante é uma substância (como estrume ou uma mistura química) usada para tornar o solo mais fértil.” Nas plantas, o fertilizante precisa de ser trazido do exterior. Nós já temos muito "estrume" dentro de nós; não precisamos de o trazer de o exterior, mas em vez disso corrigir o que já está dentro de nós. Para tal, precisamos de reconhecer quais das nossas qualidades são impróprias (estrume) e corrigi-las (torna-las fertilizante) usando o método da Cabala. Esta é a essência da jardinagem espiritual.
Quando Cabalistas falam de qualidades impróprias, estes falam não apenas de qualidades socialmente indecentes mas das qualidades espirituais, as que se relacionam ao nosso relacionamento com o Criador. No fim faz com que nos tratemos melhor uns aos outros, mas precisamos de manter em mente que o objectivo final da Cabala é voltar ao Jardim do Éden, ao mundo espiritual.
Cavar
Na espiritualidade, "cavar" significa examinar as profundezas da nossa alma. De acordo com a Cabala, só lá, dentro de nós mesmos, iremos descobrir porque viemos a este mundo. As respostas a todas as perguntas da vida permanecem profundamente dentro de nós. Se as queremos encontrar, temos de "cavar" dentro de nossas almas e retira-las de dentro de nós.
Remover a Folhagem em Excesso
Enquanto estudamos a Cabala para redescobrir o Criador, as "folhas" são os nossos esforços e desejos de O descobrir. Assim que estabelecemos esta ligação, estes esforços e desejos tornam-se "frutos". Nós não mudamos quem nós somos, apenas o nosso foco de atenção: "espiritualidade" significa focar-nos no Criador, enquanto que a "corporalidade" significa focar-nos em nós mesmos.
As folhas são muito importantes. Estas são belas, providenciam sombra e protegem os frutos enquanto estão a crescer. Não devem haver demasiadas folhas para que esgotem a energia e água da árvore, mas precisamos de ter folhas suficientes para ajudar os frutos a crescer lustrosos e abundantes. Similarmente, você aprende como se tornar espiritual, não se preocupe se não fez rapidamente contacto com o Criador. As suas tentativas são as suas "folhas." Mesmo que não esteja consciente disso, elas protegem os frutos que já crescem dentro de si, ocultos entre a folhagem.
Pulverizar
"Pulverizar," em Hebraico é chamado LeAbbek, significa cobrir com pó ou poeira. Também significa lutar. Para nos ligarmos ao Criador, precisamos de atravessar a barreira entre o nosso mundo e o mundo espiritual. Nós nascemos completamente auto-centrados; e para nos conectarmos ao Criador, à natureza, precisamos de nos tornar "centrados no Criador." Isto implica uma luta, porém, porque a natureza com que nascemos recusa estarmos centrados no Criador e nos envia pensamentos de que a nossa ligação com Ele não é um objectivo que valha. Então, temos de "pulverizar" estes pensamentos e cobri-los com a nossa convicção da importância e mérito do nosso objectivo.
Regar
E Deus disse: 'Que haja um firmamento entre as águas, e que ele divida as águas das águas.'
--Génesis 1:8
Guardamos o melhor para o fim. Água existe em cima - no Céu - e em baixo - na Terra. Este é o derradeiro solvente e o primário ingrediente de tudo o que vive. Não surpreendentemente, a água também representa o Criador, especificamente, Sua qualidade de misericórdia. Tal como o Criador é omnisciente, a água, também, retém informação sobre tudo o que toca. As plantas conseguem usar esta qualidade na água, que lhes diz quando brotar e quando florir.
Para crescer, a planta precisa apenas de água e uns quantos minerais, que esta retira frequentemente da própria água. Não há outra substância que possa substituir a água como única causa da evolução e crescimento. O ciclo hidrológico permite à água ligar os mundos "superiores" (ar ou céu) com os mundos "inferiores" (terra), tal como o Criador faz na espiritualidade. Sabendo quando e quanto "regar" a nossa alma com a qualidade do Criador é então a única e mais importante peça de informação que um que busque a espiritualidade necessita.
Tornando-se um "Jardineiro Espiritual"
A sabedoria da Cabala foi ocultada por muitos séculos - dos dias de Abraão, o Patriarca, até ao fim do século XX. Hoje, todavia, podemos todos aproveitar o que esta tem para oferecer. Para uma pessoa espiritual, a Cabala é a enxada, a tesoura de podar e o arado. O Criador dá a água da vida e nós precisamos apenas transformar o nosso "desperdício" em fertilizante para descobrir o Criador para que as nossas almas possam florir. Nas palavras do Rei Salomão, este conhecimento "É árvore de vida para os que dela tomam, e são bem-aventurados todos os que a retêm" (Provérbios 3:18)
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