O Mago Omnipotente Que Não Podia Estar Só

O Mago Omnipotente Que Não Podia Estar Só

Um conto para graúdos

Rav Michael Laitman, PhD

Traduzido de: Kabbalah Today issue #3

Você sabe porque é que apenas os mais velhos contam histórias e lendas? Porque lendas são a coisa mais inteligente no mundo! Tudo no mundo muda e só as verdadeiras lendas permanecem. Lendas são histórias sobre sabedoria. Para as contar adequadamente, precisamos de ter um grande conhecimento e ver coisas que os outros não conseguem ver.

Para isso, precisamos de ter vivido muito. É por isso que as pessoas mais velhas são frequentemente bons contadores de histórias. Está escrito no maior, mais antigo livro mágico, O Livro do Zohar, "uma pessoa velha é uma que adquiriu sabedoria."

As crianças adoram ouvir lendas porque elas têm a imaginação para visualizar tudo, não apenas os que os outros vêem. Se uma criança cresce e ainda vê o que os outros não vêem, ela pode eventualmente "adquirir sabedoria."

Porque as crianças são frequentemente capazes de ver o que os outros não conseguem, elas sabem que a imaginação é real. Quando elas crescem, elas permanecem como "crianças sábias."

Houve então um grande mago, nobre e de bom coração, mas ele não tinha ninguém que recebesse o seu afecto, para brincar com ele, para passar tempo com ele ou em quem pudesse pensar. O mago também precisava de se sentir desejado, pois é muito triste estar só.

"Que devo eu fazer?" pensou ele para si mesmo. "Talvez eu faça uma pedra, uma pequena e bela pedra e talvez esta pedra seja a resposta à minha solidão. Assim que criar a pedra, irei fazer-lhe festas e sentir que há sempre algo ao meu lado. Ambos eu e a pedra iremos sentir-nos bem, porque nenhum de nós iria querer estar só." Ele acenou a sua varinha e num instante estava ali uma pedra, tal como ele queria.

O mago fez festas à pedra, abraçou-a e acotovelou-a suavemente. Mas a pedra não respondia. Ela permanecia fria e não devolvia o afecto do mago. O que quer que ele fizesse à pedra, ela permanecia o mesmo objecto sem sentimentos.

Isto entristeceu o mago. Porque não respondeu a pedra? Ele criou mais pedras, então rochas, montes, montanhas, planetas, galáxias e finalmente um universo inteiro. Mas eles eram todos iguais - objectos frios, sem resposta.

Ele estava ainda triste e ainda só. Na sua tristeza, ele pensou que em vez de pedras, ele iria fazer uma planta, uma belissima flor. Ele iria rega-la e dar-lhe ar fresco e bastante sol, tocar-lhe alguma música e faria a planta feliz. Então eles iriam ambos estar satisfeitos, pois eles não estariam sós.

Ele acenou sua varinha e num instante ali estava uma flor, tal como ele queria. O mago estava tão feliz que ele começou a dançar à sua volta. Mas a flor não se movia. Ela não dançava com o mago ou seguia seus movimentos. Ela pouco respondia ao que o mago lhe fazia para a fazer feliz.

Ele regou-a, a planta cresceu; se ele não o tivesse feito, ela teria morrido. Isto não era suficiente para tal amável mago que queria dar com todo o seu coração.

Ele precisava de algo mais, para que não estivesse triste e sempre só. Ele criou muitos tipos diferentes de plantas em todas os tamanhos e feitios: campos, florestas, pradarias, pomares, plantações e olivais. Mas nenhum deles era mais sensível que a primeira planta. Novamente, o grande mago sentiu-se triste e sozinho.

O mago pensou e pensou. Que deve ele fazer? "Eu sei," disse para si mesmo, "Eu irei criar um animal! Que tipo de animal? Um cão, um pequeno cão bonito que estaria sempre comigo. Eu irei leva-lo para passear e o cão saltitaria e trotearia por todo o lado."

Quando o mago chegaria a casa à noite, o cão ficaria tão satisfeito de o ver que o viria cumprimentar. Ambos seriam felizes e não estariam mais tristes e sozinhos.

O mago acenou a sua varinha e um bonito pequeno cachorro imediatamente apareceu, tal como ele queria. Ele cuidou do cachorro, alimentou-o, deu-lhe água, fez-lhe festas. Ele até correu com ele e lavou-o e levou a passear.

Mas o amor de um cão depende de estar com o seu dono. O mago estava triste por ver que um cão não conseguiria retribuir da forma que ele desejava, mesmo que agradavelmente brincasse com ele e o seguisse para todo o lado. Um cão não poderia ser o verdadeiro amigo que ele desejava. Ele não podia apreciar o que o mago estava a fazer por ele e não podia compreender os pensamentos e desejos do mago e o muito esforço que fazia por ele. Isto era tudo o que o mago queria verdadeiramente.

Então o mago fez outras criaturas: peixes, aves, mamíferos, tudo inutilmente. Nenhum deles o compreendia. Uma vez mais, ele estava muito triste por estar tão só.

E uma vez mais, o mago se sentou e pensou. Ele apercebeu-se que um verdadeiro amigo deve ser alguém que se preocuparia com o mago, que quereria muito estar com ele. O mago também se apercebeu que um amigo teria de ser similar a ele, capaz de amar como ele, compreende-lo e assemelhar-se no geral a ele e ser o seu parceiro. Parceiro? Verdadeiro amigo?

A criatura teria de lhe ser próxima a ele, compreender o que ele lhe deu e ser capaz de retribuir dando-lhe tudo em volta. Magos também querem amor e ser amados. E o mago sabia que se ele tivesse tal amigo, eles ambos seriam felizes, pois é muito triste estar só.

O mago então pensou em criar um homem. "Um homem poderia ser um verdadeiro amigo!" ele pensou. Ele poderia ser como o mago. Ele necessitaria meramente de um pouco de ajuda para se tornar como o seu criador. Então os dois seriam felizes pois eles não estariam sozinhos e é muito triste estar sozinho.

Mas para que eles se sentissem bem, o homem primeiro tem de se sentir só e triste sem o mago. O mago acenou a sua varinha novamente e fez um homem à distância. O homem não sabia que havia um mago que tinha feito todas as pedras, plantas, montes, campos e lua, chuva, ventos, etc. Ele não sabia que ele tinha feito um mundo inteiro cheio de coisas belas, tais como computadores e futebol, que o faziam sentir bem e satisfeito.

O mago, por outro lado, continuava triste por estar só pois o homem não sabia da sua existência. Ele não sabia que havia um mago que o tinha feito, o amava e o esperava e pensava que juntos se iriam sentir bem e não estariam tristes e sozinhos.

Todavia como poderia o que está contente e tem tudo, até um computador e futebol, querer encontrar alguém que ele não conhece. Como poderia ele querer encontrar-se com o mago, apegar-se a ele, ama-lo e ser seu amigo? Pode alguém tão inconsciente dizer, "Vem, iremos ambos sentir-nos bem, pois é muito triste estar só, sem ti" ?

Nós só conhecemos os nossos arredores, fazemos o que todos que estão próximos fazem, falamos como eles falam e queremos o que todos querem. Tentamos não ofender os outros e pedindo-lhes agradavelmente por prendas como computadores ou uma bola de futebol. Como poderemos saber que há um mago que está triste por estar só?

Mas o mago tem bom coração e olha pelo homem constantemente, sua criação. E quando o mundo estiver maduro, ele acena a sua varinha e chama-nos muito suavemente no nosso coração. Então, começamos a procurar algo não nos apercebemos que é o mago a chamar, dizendo "Vem, iremos ambos sentir-nos bem, pois é muito triste estar só, sem ti."

Então, o mago acena a sua varinha uma vez mais e a pessoa sente a presença do mago. Aquela pessoa começa a pensar no mago, que será tão bom estarmos juntos, pois é muito triste estar só e sem o mago.

Outro acenar da varinha e a pessoa sente que há uma torre mágica preenchida de tesouros e glória. é lá que o mago espera por ele e apenas lá se irão sentir bem.

"Mas onde fica esta torre? Como a posso alcançar? Onde fica o caminho para ela?" a pessoa pergunta-se, enigmada e confusa. "Como posso eu encontrar o mago?" Ele continua a sentir o acenar da varinha no seu coração e não consegue descansar. Ele vê constantemente magos e grandes torres e não consegue comer sequer.

Isto é o que acontece quando uma pessoa quer muito uma coisa e não a consegue encontrar. Certamente, é muito triste estar só. Mas tal como o mago - sábio, poderoso, nobre, de bom coração, amável e um amigo - o acenar da varinha não é suficiente. Temos de aprender maravilhas nós mesmos.

Então o mago secretamente e amavelmente entrega ao homem o maior e mais antigo livro mágico, O Livro do Zohar e mostra-lhe o caminho para a gloriosa torre. O homem apressa-se para conhecer o mago, seu amigo e contar-lhe "Vem, iremos ambos sentir-nos bem, pois é muito triste estar só."

Mas então, uma alta muralha rodeia a torre e muitos guardas repelem o homem, não o deixando e o mago estarem juntos e sentirem-se bem. Os guardas são cautelosos e o homem desespera. O mago está escondido nas profundezas da torre, por trás de pesados portões trancados e a muralha é alta; nada pode passar.

O que irá acontecer de seguida? Conseguiram eles estar juntos e sentirem-se felizes?

Cada vez que o homem enfraquece e desespera, ele recebe subitamente um acenar da varinha e ele apressa-se para as muralhas novamente e tenta iludir os guardas. Ele quer atravessar os portões, alcançar a torre, subir os degraus da escada e encontrar o mago.

E sempre que ele avança e se aproxima da torre, os guardas tornam-se mais cautelosos, duramente e sem misericórdia impedindo-o. Mas com cada tentativa o homem torna-se mais corajoso, mais forte e sábio. Ele aprende todos os tipos de truques e inventa coisas que só um mago poderia.

E toda a vez que é afastado, o seu anseio pelo mago cresce. Ele sente o seu amor pelo mago mais forte que nunca e quer mais que qualquer outra coisa no mundo estar com o mago e ver a sua cara. Oh, será tão bom estarmos juntos. Agora, mesmo que lhe seja dado tudo no mundo, sem o mago, ele irá sentir-se só.

Então, quando ele não consegue suportar mais estar sem ele, os portões da torre abrem-se e o mago, o seu mago, apressa-se para ele e diz, "Vem, vamos ser felizes juntos, não precisamos mais de estar tristes e sempre sozinhos."

E desde esse dia, eles são melhores amigos e não há melhor prazer que a sua união, sempre e para sempre. E eles sentem-se tão bem juntos que nunca se lembram, nem sequer brevemente, que era muito triste estar triste e só.

O Fim

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