A nossa percepção da realidade está divida em Kelim interiores e Kelim exteriores. Os Kelim interiores são chamados "raiz, "alma," e "corpo"; percepcionamos-os através do nosso "eu" e tomamos conta deles. Os Kelim exteriores são chamados Levushim (vestes) e Heichalot (palácios) e são sentidos como pertencentes a outra pessoa qualquer, e desta forma contrários aos nossos Kelim internos.
Quanto mais amamos os nossos Kelim internos, mais odiamos os Kelim externos. Separamos sempre os dois e avaliamos um contra o outro.
Há uma fronteira (Parsa) ou quebra entre os internos e externos Kelim; nós olhamos de dentro para fora de trás dessa fronteira com a perspectiva de: Como posso eu usar tudo para meu próprio beneficio? Desta forma, olhamos sempre para os outros egoisticamente e com ódio. Quanto pior se encontram os outros, melhor nos sentimos.
O poder da quebra cria esta separação, e como resultado, desfrutamos do nosso próprio preenchimento assim como a falta dele nos outros. Avaliamos sempre a nossa condição de acordo com a fronteira que reside entre nós e o resto do mundo – quão pior estiver o mundo a passar, melhor nos encontramos (enquanto que isso não ameace a nossa segurança pessoal).
Somos construídos de tal maneira que nos assustamos apenas se escutarmos tragédias que nos podem afectar pessoalmente. Se elas não nos podem afectar directamente, então estaremos contentes por as ouvirmos. Avaliamo-nos a nós mesmos contra os outros, isto é, contra os Kelim externos (“vestes e castelos”) que nos parecem estranhos a nós.
Um "estranho" não é apenas alguém por quem não me preocupo, mas mais ainda – alguém que me magoa ao ser bem sucedido. Se eu ganho dez mil por mês enquanto que os outros que me rodeiam ganham apenas cinco mil, então eu sinto-me óptimo! Mas se outra pessoa ganha vinte mil, isso causa-me desilusão. Eu não me acalmo ao ter tudo o que preciso; é também importante que os outros tenham menos. Isto dá-me preenchimento adicional. Eu sou preenchido quando eles não têm algo que eu tenho.
As pessoas gostam de ouvir falar de tragédias que acontecem no mundo porque faz a sua própria condição parecer melhor, e elas odeiam ouvir que outra pessoa ganhou ou mereceu algo. Por outras palavras, nós não somos indiferentes aos Kelim exteriores, e eles ainda pertencem a nós. Contudo, na nossa presente percepção, eles pertencem a nós numa forma "de pernas para o ar." Quanto mais temos um "mais" no interior, mais os outros possuem um menos.
Isto é o resultado do poder da quebra, a divisão dos Kelim. Houve em tempos uma tela acima dos Kelim que os conectava, mas quando quebrou, um mundo, de pernas para o ar, surgiu nela. Nela, quanto maior é o egoísmo das pessoas, maior é a separação em "eu versus o mundo," e maior a distância entre as pessoas.
Quando as pessoas experimentam sofrimento, isto força-as a sentir o seu egoísmo menos de forma a sofrerem menos. É por isso que o sofrimento aproxima as pessoas. Quando as pessoas experimentam tipos similares de sofrimento, elas juntam-se e reduzem a sua miséria pessoal. Nestes casos os desejos dos outros são sentidos mais proximamente porque eles são similares ao nosso e sabemos que os mesmos infortúnios podem cair sobre nós.
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