Eis que antes das emanações serem emanadas e as criaturas criadas, a simples luz superior havia preenchido a completa existência. E não havia vacuidade, tal como um ar vazio, um buraco, mas tudo era preenchido com essa simples, luz ilimitada.
...E quando sobre Sua simples vontade, veio a vontade de criar os mundos e emanar as emanações, de trazer à luz a perfeição de Suas Acções, Seus nomes, Suas apelações, que foi a causa da criação dos mundos, então o Ein Sof se restringiu a Si Mesmo, no Seu ponto médio, precisamente no centro, e ... um lugar foi formado, onde as Emanações, Criações, Formações, e Acções possam residir.
O Ari, A Árvore da Vida [1]
Neste capítulo, lidaremos com a estrutura da realidade e os mundos superiores. Esta informação nos permitirá compreender melhor a vida e nos ajudar a ver o que se esconde por trás das palavras em O Livro do Zohar. Nós existimos numa realidade que inclui o Criador, as criaturas, e o sistema através do qual o Criador se conecta às criaturas. Através desse sistema, o Criador conduz-nos para o propósito da Criação — nos fazer o bem, ou seja nos permitir ser como Ele.
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Como um amável pai, o Criador deseja partilhar com todos nós o que Ele tem. Mas o Criador tem de nos fazer evoluir para nos tornarmos independentes; assim, Ele tem de activar Sua influência sobre nós de ambos os lados, com misericórdia e com juízo. Embora ambos derivem de Ele, eles parecem-nos forças contraditórias e são percepcionados por nós como efeitos de bem ou mal, misericórdia ou juízo, luz ou trevas.
Quando experimentamos os eventos da vida devemos manter em mente que até no que parece ser a situação mais prejudicial, Ele deseja somente fazer o bem a nós.
Se nos recordarmos de conectar tudo a Ele, e nos lembrarmos que Ele é benevolente, então nós religamos essas duas linhas — misericórdia e juízo — à mesma fonte. E uma vez que somos nós aqueles que as conectamos nos nossos corações e mentes, somos nós aqueles que alcançam Dvekut [adesão] com o Criador, ou seja nos tornamos como o Criador.
Contudo, quando tentamos fazê-lo, descobrimos que é muito difícil conectar todas as coisas boas e más ao Criador, compreender que tudo vem d'Ele somente por um bom propósito. Encontramo-nos a nós mesmos Lhe pedindo a força para sermos capazes de unir tudo a Ele.
Estudar a sabedoria da Cabala num grupo é o meio que nos promove e nos direcciona neste processo. Durante o estudo e o trabalho no grupo, nossos egos crescem e parecem mais intensos, mais maus, e cruéis com cada fase. Nossos egos tentam enganar-nos para pensarmos que há outrem além d'Ele, e que Ele não é somente benevolente. Como resultado, somos obrigados a nos voltarmos mais e mais ao Criador para receber mais força d'Ele para superar o ego.
Nós superamos, e o ego se intensifica. Nós superamos novamente, e ele se intensifica novamente. Fase após fase subimos até que tenhamos sucesso em expor e corrigir todo o ego que estava escondido em nós para começar. Nesse ponto, alcançamos completa conexão com o Criador, Dvekut. Nos tornamos como Ele. Isto torna-nos infinitos também, nos permitindo ver o todo da realidade sem quaisquer fronteiras entre a vida e a morte, compreender e sentir tudo, estar preenchido de luz.
Para nos permitir realizar o processo inteiro, o Criador criou um sistema de comunicação entre Ele e nós. Através dele Ele nos conduz do alto, e através dele nós podemos pedir de baixo e recebemos Sua assistência.
Este sistema está dividido em várias partes:
1. Seu topo é o mundo de Ein Sof [Infinito], onde o poder do Criador está divulgado no aberto.
2. Abaixo dele está o mundo de Adam Kadmon [Homem Primordial], onde o Criador divide Sua doação em cinco tipos, de acordo com o nível de nossos egos.
3. Abaixo de Adam Kadmon está o mundo de Atzilut [Emanação], que é um sistema de orientação e governação que se divide em cinco partes: Kéter [Coroa], Chochmá [Sabedoria], Biná [Compreensão],Zeir Anpin [Pequena Face], e Malchut [Realeza]. Eles são também chamados Atik [Ansião], Arich Anpin[Longa Face], Aba e Ima [Pai e Mãe], Dechar [macho] e Nukva [fêmea].
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O Zohar refere-se a Atik e Arich Anpin como a “cabeça escondida” ou Atzilut.
- Aba e Ima são aqueles dos quais todas as luzes vêm até nós.
- Estas luzes atravessam Zeir Anpin e alcançam a Nukva,Malchut de Atzilut, que é chamada “Divindade,” uma vez que toda a luz que é destinada às almas vem dela, da Divindade. Malchut é também chamada "a Assembleia de Israel" porque ela assembla dentro dela todas as almas que desejam alcançar Yashar El [direito a Deus], ou seja subirem ao mundo de Ein Sof.
4. Abaixo do mundo de Atzilut estão os mundos Beriá, Yetzirá, eAssiyá (BYA), onde nossas almas existem.
5. Finalmente, há este mundo.
Na linguagem de O Zohar, Malchut é também chamada "terra," eBiná (Ima) é também chamada "céus." Zeir Anpin e Malchut têm nomes diferentes em O Zohar: Shochen [Morador, na forma masculina] e Shechiná [Divindade, na forma feminina], o Criador e a Assembleia de Israel, noivo e noiva, macho e fêmea.
Estes são somente alguns exemplos porque cada um destes elementos da realidade tem muitos nomes em O Zohar, retirados da linguagem das interpretações [Midrash]. Para nos ajudar a conectar ao cerne da questão, Baal HaSulam anexou consistentemente termos Cabalísticos aos diferentes nomes.
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Todos os mundos, Superiores e inferiores e tudo dentro deles, foi criado somente para o homem.
Baal HaSulam, “Introdução ao Prefácio à Sabedoria da Cabala”
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Estes mundos não existem em qualquer lugar físico. Em vez disso, estas são como qualidades que não têm lugar, volume, ou peso.
Uma pessoa que ainda reside nos desejos egoístas naturais é considerada como estando neste mundo, em termos das suas qualidades. Se o ponto no coração desperta e começa a crescer na espiritualidade, se um aspirar a uma dimensão superior, é considerado estar nos mundos BYA, nas suas qualidades.
Trabalhando em si mesmo num grupo que estuda a sabedoria da Cabala, um começa a evocar a luz que reforma de um grau de Ein Sof, através de todos os mundos. Essa luz cria um desejo de alcançarMalchut de Atzilut juntamente com o nosso grupo. Quando um é incluído em Malchut de Atzilut, este evoca o desejo de O sentir, de Lhe retribuir, em retorno pela doação do Criador.
Esta vontade geral das almas sobe de Malchut a Zeir Anpin de Atzilut. Zeir Anpin eleva essa vontade aAba e Ima de Atzilut, e de lá ela sobe mais até Ein Sof. Então, a luz é derramada para baixo deEin Sof através do inteiro sistema abaixo até Aba e Ima, deles para Zeir Anpin, e de lá paraMalchut, e as almas em Malchut recebem o preenchimento.
Quando as almas recebem o preenchimento, elas crescem e se unem com Zeir Anpin. Isto é chamado "a unificação da Divindade com o Criador," ou "a unificação das almas com o Criador.”
Isto requer muitas tais operações antes de todos os desejos nas almas se realizarem a si mesmos. Quando todos os desejos estão corrigidos e visarem dar ao Criador como o Criador lhes dá a elas, o fim da correcção chegará.
O que causa este processo? O Criador tem um desejo de dar inerente. Assim, não há necessidade de Lhe pedir para dar abundância e prazer, como normalmente fazemos. O Criador tem o que dar, bem como um desejo infinito de o dar, mas Ele não nos quer meramente como receptores, inferiores a Ele, mas que nós sejamos como Ele — grandes, independentes, dadores — semelhantes em qualidades ao Criador.
Estamos acostumados a pedir preenchimento. Em vez disso, devíamos pedir correcção. Quando adquirimos a correcção, ou seja nos tornamos nós mesmos dadores, imediatamente começaremos a sentir toda a abundância do Criador e sermos preenchidos por ela. Por outras palavras, nosso problema é que não compreendemos o que pedir ao Criador. Estamos num oceano de abundância, bondade, e deleite, mas carecemos do receptáculo adequado no qual a sentir. Esse Kli [vaso] é a qualidade de amor e doação, e é isto que devemos pedir ao Criador para nos dar. Quanto mais temos esta qualidade, mais sentiremos a abundância que nos preenche.
Do lado do Criador há somente uma limitação na nossa recepção de abundância — nós devemos ser como Ele. Ele deseja que desfrutemos tanto quanto Ele desfruta.
O que significa isso? Assumamos que eu vou visitar uma personalidade respeitável. O anfitrião serve-me todos os tipos de delícias, convida-me para jogar golfe com ele, escutar música clássica ... mas eis que, eu sou uma pessoa inculta. Eu não tenho interesse em nenhuma dessas oferendas. Eu nunca experimentei qualquer destes deleites sofisticados e não tenho desejo por eles. Eu olho para o anfitrião, atónito e digo, “O que queres tu de mim? Eu não vim até ti para desfrutar do que tu gostas. Eu vim para desfrutar do que eu quero Igosto!”
E o anfitrião responde, “Meu amigo, Eu desejo dar-te prazeres além da tua imaginação. Faz um pouco de esforço, habitua-te a eles e acredita em mim, verás beleza neles. Sentirás que te estou a dar um prazer muito maior do que agora estás a sentir.”
O que devo eu fazer? Eu posso continuar com o anfitrião e tentar aprender esses novos prazeres, embora não tenha desejo por eles, e então certa e gradualmente começarei a experimentar um prazer muito especial neles, um verdadeiro sabor dos céus. Eu também posso dizer ao anfitrião, “Sabes que mais? É demasiado difícil para mim me habituar a estas novas coisas. Não posso, então vamos parar. Eu vou voltar para a minha vida simples.”
“Óptimo, regressa,” ele responderia.
Mas quando eu retorno à minha velha vida, eu agora sinto que não é assim grande coisa afinal de contas. E então recordo-me dessas palavras do anfitrião sobre aqueles outros prazeres, os superiores, e eu regresso a ele no final de tudo.
E talvez eu regresse à minha velha vida uma vez mais, e então de volta a ele várias vezes. Mas no fim, compreenderei que não tenho escolha senão retornar ao anfitrião para mudar meu paladar para o seu, porque eu já sei que neles eu sentirei o sabor da vida.
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Certamente, se dispusermos nossos corações a responder senão uma pergunta muito famosa, estou certo que todas estas perguntas e dúvidas desapaceriam do horizonte, e você olharia para o seu lugar e as encontraria ausentes. Esta pergunta indignante é uma pergunta que o mundo inteiro faz, nomeadamente, “Qual é o sentido da minha vida?”
Por outras palavras, estes numerosos anos da nossa vida que nos custam tão pesadamente, e as numerosas dores e tormentos que sofremos por eles, para os completar na totalidade, quem é que desfruta deles? Ou até mais precisamente, a quem deleito eu?
É certamente verdade que historiadores se cansaram de a contemplar, e particularmente na nossa geração. Ninguém sequer a deseja considerar.
Todavia a pergunta permanece mais amarga e veementemente que sempre. Por vezes ela encontra-nos sem convite, debica nossas mentes e humilha-nos até ao chão antes que encontremos a famosa estratégia de fluir inconscientemente nas correntes na vida como sempre.
Certamente, é para resolver esta grande adivinha que o versículo escreve, “Provai e vede que o Senhor é bom.”
Baal HaSulam, “Introdução a O Estudo das Dez Sefirot,” Itens 2-3
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[1] O Ari, A Árvore da Vida, Portão 1, Ramo 2
Tudo São Suas Palavras
Se você ao menos escutar,
Se ao menos abrir o seu coração,
Você começará a ver
Que Ele deseja falar consigo,
Que Ele está a falar consigo.
Tudo o que passa
Pela sua mente e coração
Dentro de si e ao seu redor,
São tudo Suas palavras.
Tudo o que escuta,
Tudo o que vê,
São somente
Ele.
Não há nada,
Nem pessoas,
Nem mais ninguém.
Você está a falar somente com Ele,
E é a Sua linguagem.
A aparência do mundo,
A sensação da realidade,
A sensação do eu,
São todas o Criador
A falar consigo.
O Coração Entendedor