Eu ouvi em 1943, Jerusalém
O Santo Zohar diz que o
Criador odeia os corpos. Ele disse que devemos interpretá-lo como se referindo
ao desejo de receber, chamado Guf (corpo). O Criador criou Seu mundo em
Sua glória, como está escrito: “Todo aquele que é chamado pelo Meu Nome e, que
criei para Minha Glória, formei-o, sim, Eu o fiz”.
Portanto, isso contradiz o
argumento do corpo, de que tudo é para ele, ou seja, apenas para seu próprio
benefício, enquanto o Criador diz o contrário, que tudo deve ser para o
Criador. Por isso, explicam nossos sábios que o Criador disse: “Ele e Eu não
podemos habitar na mesma morada”.
Daí resulta que a separação
primária que nos impede de estarmos em adesão ao Criador é o desejo de receber.
É evidente que quando chega o mal, ou seja, o desejo de receber vem e pergunta:
“Por que você deseja trabalhar para o Criador?” Achamos que ele falaria como
fazem os humanos, que desejam entender com o intelecto. Contudo, esta não é a
verdade, já que não pergunta por quem se está trabalhando. Este certamente é um
argumento racional, pois desperta na pessoa com a razão.
Em vez disso, o argumento dos
ímpios é uma questão física. Isso é, pergunta: “O que você quer por este
serviço?” Em outras palavras, que lucro terá pelo esforço que está fazendo?
Isso significa que pergunta: “Se você não está trabalhando para si mesmo, o que
o corpo, chamado de “o desejo de receber para si mesmo”, ganha com isso?”
Já que é um argumento corporal,
a única resposta é corporal, “Ele cerrou seus dentes e, se não estivesse lá,
não teria sido redimido”. Por quê? Porque o desejo de receber para si não tem
redenção, sequer no momento de resgate. Isso porque a redenção chegará quando todos os
ganhos entrarem nos vasos de doação e não nos de recepção.
O desejo de
receber para si mesmo, deve sempre permanecer em déficit, já que preencher o
desejo de receber é a morte real. A razão é como dissemos acima, que a criação
foi principalmente para a Sua glória (e esta é uma resposta ao que está
escrito, que seu desejo é fazer bem às Suas criaturas e não para Si mesmo).
A
interpretação é: a essência da criação é revelar a todos que o seu propósito é
fazer o bem às Suas criaturas. Isto é especificamente, quando se diz que nasceu
para honrar o Criador. Nesse momento, nesses vasos, o propósito da criação
aparece, fazer o bem às Suas criaturas.
Por esta
razão, deve-se sempre examinar a si mesmo, o propósito do seu trabalho, ou seja,
se o Criador recebe contentamento em cada ação que se realiza, porque deseja
equivalência de forma. Isso é chamado de “Todas as suas ações serão para o
Criador”, que significa que deseja o Criador para desfrutar de tudo o que
faça, como está escrito, “para trazer contentamento ao seu Fazedor”.
Também, é
preciso conduzir-se com o desejo de receber e dizer-lhe: “Já decidi que não
quero receber nenhum prazer, porque você quer desfrutar. Isto porque com o seu
desejo, sou forçado a separar-me do Criador, já que a disparidade de forma
provoca a separação e distanciamento do Criador”.
Sua esperança
deve ser que, já que não pode libertar-se do domínio do desejo de receber, se
está, portanto em perpétuas subidas e descidas. Assim, se aguarda o Criador,
para ser recompensado com o Ele, abrindo seus olhos, e tendo a força de superar
e trabalhar apenas em benefício do Criador. É como está escrito: “Isso pedi
ao Senhor, que eu buscarei”. Isso, significa a Santa Shechiná (Divindade).
E se pede (Salmos 27:4), “que eu possa habitar na casa do Senhor todos os
dias da minha vida”.
A casa do
Senhor é a Santa Shechiná. E agora podemos entender o que nossos sábios
disseram sobre o versículo: “E tomareis o primeiro dia”, o primeiro a
contar as iniquidades. Devemos entender, por que há alegria, se aqui há espaço
para contar iniquidades? É dito que devemos saber que há uma questão de
importância no trabalho, quando há um contato entre o indivíduo e o
Criador.
Isso significa
que se sente que precisa do Criador, visto que, no estado de trabalho, vê que
não existe ninguém no mundo que o possa salvar desse estado, mas, apenas o
Criador. Então, vê que “Não há ninguém além d”Ele”, que possa salvá-lo
do estado em que se encontra e do qual não pode escapar.
Isso é chamado
ter um contato estreito com o Criador. Se a pessoa sabe como apreciar esse
contato, quer dizer, que deve acreditar que então se está em adesão com Ele,
isto é que o seu pensamento inteiro é do Criador, significando que Ele o
ajudará. Caso contrário, vê que está perdido.
No entanto,
àquele que é concedida a Providência particular e, vê que é o Criador quem faz
tudo, como está escrito: “Ele sozinho faz e fará todas as obras” e,
naturalmente não se tem nada a acrescentar e, em qualquer caso, não tem espaço
para orar pela ajuda do Criador. Isso, porque vê que mesmo sem suas orações, o
Criador ainda faz tudo.
Portanto nesse
momento, ser capaz de realizar boas ações não tem lugar, pois vê que tudo é
feito, de qualquer forma sem ele, pelo Criador. Assim, nesse estado o Criador
não tem necessidade de sua ajuda para nada. Então, nesse momento, não se tem
contato com o Criador e precisa d'Ele na medida em que se está perdido, se o
Criador não o ajudar.
Segue-se que
não tem o contato que tinha com o Criador durante o trabalho árduo. Diz-se que
é como uma pessoa que está entre a vida e a morte e, pede a seu amigo para
salvá-lo da morte. Como pede ao seu amigo? Certamente tenta pedir ao amigo para
que tenha misericórdia dele e o salve da morte, com todos os meios ao seu
alcance. Ele certamente nunca se esquece de orar pelo amigo, pois vê que caso
contrário, perderá a sua vida.
No entanto,
quem pede ao seu amigo por luxos que não são tão necessários, o suplicante não
estará tanto em adesão com o seu amigo para que lhe dê o que pede, ao ponto que
sua mente não se desvie de pedir. Você descobre que com coisas não relacionadas
com vida ou morte, o suplicante não está tão aderido ao doador.
Assim, quando
sente que deveria pedir ao Criador que o salve da morte, ou seja, do estado de:
“O perverso em sua vida é chamado morto”, o contato entre a pessoa e o Criador
é um contato próximo. Por isso, para os justos, um local de trabalho consiste
em necessitar a ajuda do Criador, caso contrário está perdido. Isto é o que os
justos desejam: um local para trabalhar, assim terão um contato próximo com o
Criador.
Segue-se que,
se o Criador dá espaço para o trabalho, estes justos ficam muito felizes. É por
isso que eles disseram: “primeiro para a contagem das iniquidades”. Para eles,
é regozijo agora terem um lugar para trabalharem, o que significa que agora se
tornaram mais necessitados do Criador e podem agora entrar em contato próximo
com Ele. É por isso que não se pode vir ao Palácio do Rei, sem algum propósito.
Este é o
significado de: “E tomareis”. Isso especifica você. Isso, porque
tudo está nas mãos de Deus, exceto o temor a Deus. Em outras palavras, o
Criador pode dar abundância de Luz, porque é isso que Ele tem. Mas a escuridão,
o lugar de carência, não está em seu domínio.
Como ali, há
uma regra de que ali exista temor a Deus, apenas de um lugar de carência e,
um lugar de carência é chamado “o desejo de receber”, significa que só
então, está ali um lugar para trabalhar. Em quê? No que se resiste.
O corpo vem e
pergunta: “O que significa a você este serviço?” E não se tem nada a responder
à sua pergunta. Então, deve se assumir o fardo do Reino dos Céus acima da razão
como um boi com sua carga e como um burro de carga, sem discutir. Em vez disso,
Ele disse e Sua vontade foi feita. Isso é chamado “você”, ou seja, este
trabalho pertence justamente a você e não a mim, ou seja, o trabalho que o
seu desejo de receber necessita.
No entanto, se
o Criador lhe dá alguma luminosidade do Alto, o desejo de receber se rende e se
anula como uma vela frente a uma tocha. Então, não se tem qualquer trabalho,
uma vez que já não precisa tomar sobre si o fardo do Reino dos Céus
coercitivamente, como um boi e seu fardo e, como um burro e sua carga, como
está escrito, “os que amam ao Senhor, odeiam o mal”.
Isso significa
que o amor de Deus se estende somente do lugar do mal. Em outras palavras, na
medida em que se tem aversão ao mal, significando que se vê como o desejo de
receber o obstrui a atingir a plenitude da meta, nessa medida, se precisa obter
o amor de Deus.
No entanto, se
não sente que tem o mal, não lhe pode ser concedido o amor de Deus. Isto,
porque não tem necessidade dele, pois já tem a satisfação no trabalho.
Como dissemos,
não se deve ficar com raiva quando tem dificuldades com o desejo de receber,
que lhe obstrui no trabalho. Certamente estaria mais satisfeito se o desejo de
receber estivesse ausente do corpo, significando que não traria seus
questionamentos ao homem, obstruindo-o no trabalho de manter Torá e Mitzvot.
Porém, deve-se
acreditar que as obstruções do desejo de receber no trabalho lhe vêm do Alto.
É-lhe dada a força para descobrir o desejo de receber do Alto, porque há espaço
para o trabalho, precisamente quando o desejo de receber desperta.
Então se tem
um contato próximo com o Criador, para nos ajudar a transformarmos o desejo de
receber em desejo de doar. E, devemos acreditar que disso, levamos
contentamento ao Criador, por nossas orações a Ele, para O atrairmos para
perto por Dvekút (adesão), chamada “equivalência de forma”, percebida
como a anulação do desejo de receber para desejo de doar. O Criador diz sobre
isso: “Meus filhos Me derrotaram”. Ou seja, Eu lhes dei o desejo de
receber e vocês Me pedem, em vez disso, o desejo de doar.
Agora, podemos
interpretar o que traz na Guemará (Hulin p 7.): “Quando Rabi
Pinehas Ben Yair estava indo para redimir os cativos, foi pelo rio Ginaí (o
nome do rio era Ginaí). Ele disse para Ginaí: “Divida suas águas
e, passarei por você”. Este lhe respondeu: “Você está indo fazer a vontade do
seu Fazedor e eu farei a vontade do meu. Talvez você faça, talvez não, embora
que eu, certamente o farei.”
Ele disse que
o significado é que disse ao rio, ou seja, ao desejo de receber, para deixá-lo
atravessar por ele e alcançar o grau de fazer a vontade de Deus, ou seja, fazer
tudo de forma a dar contentamento ao seu Fazedor. O rio, o desejo de receber,
respondeu: já que o Criador o criou com tal natureza, de querer receber deleite
e prazer, por isso, não quero mudar a natureza na qual o Criador o criou.
Rabi Pinehas
Ben Yair travou-lhe guerra, ou seja, queria invertê-la em desejo de doar. Isso
se chama travar guerra contra a criação que o Criador criou na natureza,
chamada “o desejo de receber”, que o Criador criou, a qual é a criação total,
chamada “existência a partir da ausência”.
Deve-se saber
que durante o trabalho, quando o desejo de receber lhe vem com sua
argumentação, nenhuma argumentação e nenhuma racionalidade lhe ajudarão com
isso. Embora pense que são apenas argumentos, isso não o vai ajudar a derrotar
seu próprio mal.
Em vez disso, como está escrito: “Ele trava seus dentes”. Isso
significa avançar somente através de ações e não por argumentos. Quer dizer,
que tem que incrementar poderes coercitivamente. Este é o significado do que
escreveram nossos sábios: “É coagido até que diga 'eu quero'“. Em outras
palavras, através da persistência, o hábito se torna uma segunda natureza.
Deve-se
especialmente tentar ter um forte desejo de obter a vontade de doar e superar a
vontade de receber. O significado de um forte desejo é que este é medido pela
proliferação de descansos e pausas intermediários, ou seja, as suspensões entre
cada superação.
Às vezes, no
meio, se recebe uma suspensão, o que significa uma descida. Esta descida pode
ser uma suspensão de um minuto, uma hora, um dia ou um mês. Depois, se retoma o
trabalho de superar o desejo de receber e as tentativas de alcançar o desejo de
doar. Um forte desejo significa que a suspensão não lhe toma um longo tempo
sendo imediatamente despertado para o trabalho.
É como quem
queira quebrar uma pedra grande. Toma uma marreta e golpeia muitas vezes
durante todo o dia, mas os golpes são fracos. Em outras palavras, não golpeia a
rocha de uma tacada, mas baixa a marreta lentamente. Depois, se queixa que este
trabalho de quebrar a pedra não é para ele, que deve tomar um herói que tenha a
habilidade de quebrar essa pedra grande. Diz que não nasceu com os grandes
poderes para ter a habilidade de quebrar a pedra.
No entanto,
quem levante tal marreta e golpeie a pedra de uma tacada, não lentamente, mas
com um grande empenho, imediatamente a pedra se renderá a ele e quebrará. Este
é o significado de: “como um martelo que quebra a pedra em pedaços”.
Da mesma
forma, no trabalho sagrado, que é trazer os vasos de recepção para Kedushá (Santidade),
temos uma marreta, ou seja, as palavras da Torá que nos dão bons conselhos.
Porém, se não for consistente, mas entre longos intervalos, se abandona a
campanha e diz que não foi feito para isso, mas que este trabalho requer alguém
que nasceu com habilidades especiais para ele. No entanto, deve-se acreditar
que qualquer um possa alcançar a meta, embora deva sempre tentar incrementar
seus esforços de superação. Assim, pode-se quebrar a pedra em pouco tempo.
Também devemos
saber que há aqui uma condição muito dura no esforço de entrarmos em contato
com o Criador: o esforço deve ser na forma de adorno. Adorno significa
algo que é importante para a pessoa. Não se pode trabalhar com prazer se o
trabalho carece de importância, ou seja, temos alegria por agora estarmos em
contato com o Criador.
Esta questão
está implícita na Cidra. Está escrito sobre a cidra, um fruto da árvore da
cidreira (em hebraico, cidreira é Hadar, proveniente de Hidur,
adorno) que deve ser limpo acima do seu nariz. Sabe-se que ai existem três
discernimentos: A) adorno, B) aroma e C) sabor.
Sabor significa que as luzes são derramadas
de cima para baixo, ou seja, abaixo do Pê (boca), onde há o palato e o
sabor. Isto significa que as luzes vêm em vasos de recepção.
Aroma significa que as luzes vêm de baixo
para cima. Significando que entram nos vasos de doação, na forma de recepção e
não de doação abaixo, o palato e a garganta. Isto é percebido como o que se
disse sobre o Messias: “e ele deve sentir o aroma no temor do Senhor”.
Sabe-se que o aroma é atribuído ao nariz.
Adorno é a beleza, percebido como um acima
do nariz, ou seja, sem cheiro. Isso significa que não há nem gosto nem cheiro
lá. Assim, o que há, pelo qual se pode sobreviver? Existe apenas o adorno na
mesma, e é isso que o sustenta.
Na cidra,
vemos que o adorno está precisamente antes que esteja pronta para ser comida.
No entanto, quando está pronta para ser comida, nela não há mais nenhum adorno.
Isto se refere
ao trabalho do primeiro a contar as iniquidades. Significa que,
precisamente quando se trabalha na forma de “E tomareis para vós”, que é o
trabalho durante a aceitação do fardo do Reino dos Céus, quando o corpo
resiste, então, há ai espaço para a alegria do adorno.
Isto significa
que, durante este trabalho, o adorno é aparente. Isto é, se a pessoa tem
alegria deste trabalho, é porque considera este trabalho como adorno e não como
desgraça.
Em outras
palavras, às vezes se despreza esse trabalho de assumir o fardo do Reino dos
Céus, que é um período de sensação de escuridão, quando vê que ninguém o pode
salvar do estado em que está, exceto o Criador. Então toma sobre si o Reino dos
Céus acima da razão, como um boi com seu jugo e como um burro de carga.
Deve se
regozijar que agora tem algo para doar ao Criador e Ele desfruta dele por ter
algo para dar-Lhe. Mas, nem sempre se tem a força de dizer que este é um
trabalho bonito, chamado “adorno”, mas se despreza este trabalho.
Esta é uma
condição dura para poder dizer que escolhe este trabalho sobre o trabalho de
brancura, isto é, que não sente o sabor da escuridão durante o trabalho, mas,
em seguida, sente um gosto no trabalho. Significa que, então, já não tem que
trabalhar com o desejo de receber para aceitar tomar sobre si o Reino dos Céus
acima da razão.
Se a pessoa
supera-se e pode dizer que este trabalho é agradável, quando agora cumpre a Mitzvá
(mandamento) da fé acima da razão e aceita este trabalho como adorno, isso
é chamado “A alegria da Mitzvá”.
Este é o
significado da oração ser mais importante que a resposta à mesma. Isso porque,
na oração, se tem um lugar para trabalhar e precisa do Criador, ou seja, espera
a graça do Céu. Então, se está no contato verdadeiro com o Criador e se está no
Palácio do Rei. No entanto, quando a oração é atendida, já partiu do Palácio do
Rei, pois já tomou o que pediu e saiu.
Assim, devemos
entender o versículo, “Teus óleos têm uma fragrância agradável, teu nome é como
o óleo derramado”. Óleo, quando flui, é chamado “A Luz Superior”. “Derramado”
significa durante a cessação da abundância. Então, o perfume do óleo
permanece. (Aroma significa que, no entanto, permanece um Reshimô (Reminiscência)
do que tinha. Enquanto, adorno é chamado assim num lugar onde não há
posse em tudo, ou seja, nem mesmo o Reshimô brilha).
Este é o
significado de Atik e AA (Arich Anpin). Durante a
expansão, a abundância é chamada AA, que é Chochmá (Sabedoria),
ou seja, Providência aberta. Atik vem da palavra hebraica VaYe'atek
(separação), significando a saída da luz. Em outras palavras, não brilha.
Isto é chamado “ocultação”.
Este é o
momento da rejeição ao vestuário, que é o momento da recepção da coroa do Rei,
que é considerada Malchút (reino) de Luzes, considerado como O Reino
do Céu.
Está escrito
sobre isso no Santo Zohar, “A Sagrada Shechiná disse ao Rabi Shimon:
'Não há lugar onde se esconda de ti' (ou seja, não há lugar onde eu possa me
esconder de ti)”. Isso significa que, mesmo na maior ocultação na realidade ele
ainda toma sobre si o fardo do Reino do Céu, com grande alegria.
A razão disso
é que ele segue a linha do desejo de doar e, assim, doa o que tem na mão. Se o
Criador lhe doa mais, ele doa mais. E, se não tem nada para doar, para e chora
como um guindaste ante o Criador, para salvá-lo das águas do mal. Assim, desta
forma, também ele tem contato com o Criador.
A razão que
este discernimento é chamado Atik, sendo Atik o grau mais alto, é
que quanto mais distante a coisa está de ser vestuário, maior é. Pode-se sentir
isso na coisa mais abstrata, chamada “zero absoluto”, já que lá a mão do homem
não alcança.
Isto significa
que o desejo de receber pode agarrar apenas num lugar onde há alguma expansão
da Luz. Antes que purifique seus vasos de modo a não manchar a Luz, se é inepto
para a Luz vir na forma de expansão dos Kelim (vasos). Somente quando se
marcha no caminho da doação, ou seja, num lugar onde o desejo de receber não
está presente, seja na mente ou no coração, ali, a Luz pode chegar em plenitude
absoluta. Então, a Luz vem a ele numa sensação de que pode sentir a sublimidade
da Luz Superior.
No entanto,
quando não se corrigiu os vasos para que estejam com a finalidade de doar e,
quando a Luz chega a uma forma de expansão, a Luz deve restringir-se e brilhar
apenas de acordo com a pureza dos Kelim. Por isso, nesse momento, a luz
parece estar em total pequenez. Portanto, quando a luz é captada do vestuário
nos Kelim, pode brilhar em absoluta plenitude e claridade, sem quaisquer
restrições para o inferior.
Segue-se que a
importância do trabalho surge precisamente quando se chega a um estado de nada,
ou seja, quando vê que anula sua total existência e ser. Então, o desejo de
receber não tem poder. Só ai, se entra em Kedushá.
Devemos saber
que “Deus fez tanto um quanto o outro”. Isso significa que o quanto haja
revelação em Kedushá, nessa medida desperta a Sitra Achra (Outro
Lado). Em outras palavras, quando se afirma, “é tudo meu”, ou seja, que todo o
corpo pertence à Kedushá, a Sitra Achra também argumenta contra
ele, que todo o corpo deve servir a Sitra Achra.
Portanto, é
necessário saber que quando se vê que o corpo clama pertencer à Sitra Achra e
grita com toda a sua força as famosas questões: “Quem” e “O que”, é
um sinal de se estar andando no caminho da verdade, ou seja, que sua única
intenção é contentar ao seu Fazedor. Assim, o principal trabalho é precisamente
nesse estado. É preciso saber que é um sinal que esse trabalho atinge o alvo. O
sinal é que se luta e envia suas flechas para a cabeça da serpente, uma vez que
esta grita e defende o argumento de “O quê” e “Quem”, ou seja, “o
que lhe significa este serviço?” Em outras palavras, o que ganharão trabalhando
apenas para o Criador e não para vocês mesmos? E o argumento “Quem” significa
o argumento do Faraó que disse: “Quem é o Senhor para que eu obedeça a sua
voz?”
Parece como se
o argumento “Quem” fosse um argumento racional. É uma conduta normal
quando se diz que vá e trabalhe para alguém, se pergunte: para quem? Portanto,
quando o corpo alega: “Quem é o Senhor para que eu obedeça a Sua voz”, é um
argumento racional.
Contudo, de
acordo com a regra de que a razão não é um objeto em si, mas sim, um espelho
do que está presente nos sentidos, afigura-se também na mente. E este é o
significado de “E os filhos de Dan: Hushim (sentidos)”. Isso significa
que a mente julga apenas de acordo com o que os sentidos deixam-na examinar e
desenvolver algumas invenções e artifícios para se adequar às exigências dos
sentidos.
Em outras
palavras, o que lhe demandam os sentidos, a mente tenta satisfazer seus
desejos. No entanto, a mente não tem necessidade para si mesma, por qualquer
demanda. Então, se nos sentidos houver uma demanda por doação, a mente opera de
acordo com uma linha de doação, sem fazer perguntas, já que está meramente
servindo aos sentidos.
A mente é como
uma pessoa olhando-se no espelho para ver se está suja. E todos os lugares que
o espelho lhe mostra estão sujos, ela vai, lava-se e se limpa, já que o espelho
mostrou-lhe que existem coisas feias no seu rosto que precisam ser limpas.
No entanto, o
mais difícil de tudo é saber o que é considerado coisa feia. É o desejo de
receber, ou seja, a demanda do corpo para fazer tudo só para si mesmo? Ou é o
desejo de doar a coisa feia, que o corpo não pode tolerar? A mente não pode analisá-lo,
como o espelho, que não pode dizer o que é feio e o que é belo, mas, tudo
depende dos sentidos e, só eles determinam isso.
No entanto, o mais difícil de tudo é saber o que é considerado coisa feia. É o desejo de receber, ou seja, a demanda do corpo para fazer tudo só para si mesmo? Ou é o desejo de doar a coisa feia, que o corpo não pode tolerar? A mente não pode analisá-lo, como o espelho, que não pode dizer o que é feio e o que é belo, mas, tudo depende dos sentidos e, só eles determinam isso.
Assim, quando nos habituamos a trabalhar coercitivamente, para trabalhar em doação, então a mente também opera através de diretrizes de doação. Nesse momento, é impossível que a mente a pergunte “Quem”, quando os sentidos já se acostumaram a trabalhar em doação.
Em outras palavras, os sentidos já não perguntam: “O que este serviço significa para você?”, uma vez que já estão trabalhando a fim de doar e, naturalmente, a mente não pergunta “Quem”.
Você acha que a essência do trabalho está em “O que este serviço significa para você?” E o que ouve é que o corpo pergunta “Quem”, é porque o corpo não quer degradar-se assim. Por esta razão, faz a pergunta “Quem”. Parece ser uma pergunta racional, mas a verdade é que, como já dissemos anteriormente, o trabalho principal está em “O que”.
Rav Yehuda Ashlag, Baal HaSulam
Shamati nº 19, conforme publicado no livro Shamati