O Ari – A Maior Força Criativa do Renascimento
Antecedendo cada nova etapa na evolução dos desejos, o precursor adequado aparece. Primeiro houve Abraão, ele foi a Raiz. Depois Moisés, representando o Estágio Um, seguido pelo Rabi Shimon Bar-Yochai (Rashbi), que corresponde ao Estágio Dois. E agora chegou a hora do Estágio Três.
O surgimento do Terceiro Estágio na evolução dos desejos corresponde aproximadamente ao advento do Renascimento na Europa. Seu precursor foi o maior dos Cabalistas desde Rashbi: Isaac Luria (o Ari) ─ fundador da Cabalá Luriânica, a escola mais sistemática e estruturada da Cabalá. Hoje, é o método de ensino predominante, graças aos comentários feitos no século XX por Baal HaSulam, que interpretou os escritos e adaptou-os à mentalidade científico-acadêmica dos séculos XX e XXI.
Apesar de sua curta vida, o Ari (1534-1572) produziu numerosos textos com a ajuda de seu principal discípulo, Rav Chaim Vital. O Ari não escreveu seus textos. Em vez disso, ele falava e Chaim Vital anotava suas palavras.
Após a morte precoce do Ari, Vital e vários de seus parentes compilaram as palavras do Ari em textos coesos. Por essa razão, muitos estudiosos têm atribuído os escritos do Ari a Chaim Vital e não a seu professor. Mesmo que Vital seja o escrivão, o fornecedor da informação, no entanto, é indiscutivelmente o Ari.
Como o Ari Reformou a Sabedoria da Cabala
O Terceiro Estágio é um modus operandi "invertido", em que o ato é recepção, mas a intenção é doação. Isso foi verdade para os primeiros quatro estágios do desejo. Após a quebra da alma de Adão, no entanto, a intenção prevalecente na alma coletiva ─ da qual todos nós somos partes ─ inverteu e regrediu de doação para recepção. E por sermos todos partes da alma de Adão, a intenção escondida em todos os seres humanos é receber também. Claramente, o fato de que todos desejam receber e ninguém deseja doar leva a uma situação insustentável.
Todas as fases, porém, aparecem para que possamos corrigi-las. Em todos os níveis da Natureza, essa correção ocorre naturalmente, porque a única maneira de sustentar qualquer coisa ─ minerais, vegetais ou animais ─ é ter todos os elementos contribuindo para a sobrevivência do mineral, do vegetal ou do animal. Em humanos, como explicamos no capítulo 6, esse estado sustentável (Estágio Um), no entanto, deve ser alcançado a partir da consciência do homem. Sem consciência, vamos para onde nos levam os nossos desejos, e, na Terceira Fase, eles começam a tomar um rumo sinistro.
De fato, o período desde a Renascença até o começo do século XX presenciou dois processos que mudaram fundamentalmente a vida das pessoas. Um deles foi o desenvolvimento de armas, como fuzis e peças de artilharia, e o início das viagens de descobertas ultramarinas por intrépidos exploradores que conquistaram novas terras e, posteriormente, exploraram seus habitantes nativos e recursos naturais.
O outro foi o advento da ciência moderna, mas, mais do que isso, a "descoberta" e a exaltação do indivíduo. Essa última mudança manifestada na prosperidade da arte em todas as suas formas e, mais importante, na expansão dos movimentos humanos, como o Humanismo e o Iluminismo. O Bill of Rights, o Édito de Nantes e o Manifesto Comunista sinalizam apenas algumas das inúmeras mudanças que estabeleceram a base para o que hoje chamamos "mundo livre".
Paralelamente a essas profundas transformações, a Cabalá necessitava de seu próprio "reformador". No nível mais profundo da existência, as mudanças que acabamos de mencionar estavam acontecendo, porque um novo estágio de desejo havia surgido e isso exigia que alguém "desse sentido" a elas. Este foi o papel do Ari: introduzir o método de correção para a Terceira Fase. É por isso que o método do Ari é o mais sistemático e estruturado em comparação com todos os métodos de seus antecessores, combinando o pensamento racional e científico de seu tempo.
A Razão Pouco Conhecida Por Que o Renascimento Foi um Grande Período de Nascimento e Renascer
No início da Quarta Fase do desejo, a Terceira Fase é especial no sentido de que é a primeira vez que a Criação inicia o processo: ela "decide" receber (embora apenas um pouco), a fim de outorgar. Assim, quando a Terceira Fase do desejo surgiu na humanidade, as pessoas e as sociedades passaram a iniciar mudanças em praticamente todos os reinos da vida. Noções novas apareceram e as antigas reapareceram, e todos prosperaram sob as asas do Renascimento. Religião, ciência, tecnologia, arte, economia, política (interna e externa), filosofia e qualquer outro domínio da vida foi analisado e modificado, se não revolucionado.
Do ponto de vista cabalístico, essas mudanças aconteceram, porque o novo e recém- surgido desejo da Terceira Fase chamava para uma recepção ativa de prazer. Assim, as pessoas se tornaram mais ativas em sua busca por melhoria de vida e em sua aspiração de autoexpressão e autodeterminação como indivíduos. Para realizarem seus sonhos, as pessoas começaram a desenvolver novas tecnologias, liberaram a política dos grilhões do feudalismo e estabelecerem a base para a economia moderna.
Hoje as pessoas muitas vezes citam um aumento exponencial no ritmo das mudanças. Ensaios como o de Kip P. Nygens ─ "Tecnologias emergentes e mudança exponencial: implicações para transformação do Exército", publicado em 2002 por Questia Online Library, livros como Vivendo em meio ambiente: princípios, conexões e soluções (G. Tyler Miller e Scott Spoolman), ou o vídeo eye-opening do You Tube "Estamos vivendo em tempos exponenciais" são apenas três das numerosas tentativas para descrever o quão rápido o nosso mundo está mudando. Se levarmos em conta a mudança fundamental que ocorreu com o surgimento da Terceira Fase na evolução dos desejos, é evidente, porém, que o crescimento exponencial tem as suas raízes profundas nos conceitos e inovações que surgiram pela primeira vez no final da Idade Média e começo do Renascimento.
No Item 38 da "Introdução ao Livro do Zohar", em que Ashlag escreve: "O desejo de receber no reino animal... só pode gerar necessidades e desejos, na medida em que eles são impressos em apenas esta criatura." O nível animal que Ashlag menciona corresponde à Terceira Fase no início dos quatro estágios que manifestam um nível elevado de desejo de receber em comparação com a Segunda Fase. Nesse nível, o desejo de receber "decide" por receber, em oposição à recepção automática e rejeição nos Estágios Um e Dois. Nesse sentido, é mais autônomo do que seus antecessores. Como resultado, a sua manifestação corpórea ─ animais ─ é mais ativa e autônoma do que o seu grau anterior na pirâmide ─ plantas. Da mesma maneira, quando o desejo de receber nos humanos chegou à Terceira Fase, foi solicitado um aumento na atividade e na aspiração por autonomia individual.
Por Que o Renascimento Necessitou da Divulgação da Cabala
O início da nova era foi promissor. O zeitgeist, pelo menos entre os mais afortunados da sociedade, promoveu a liberação de mentes e corpos a partir de revoluções sociais, como o Iluminismo, o Bill of Rights (primeiro o inglês e depois a versão americana), o Humanismo, a Reforma e o Édito de Nantes. Com o acréscimo próspero da filosofia e da ciência, parecia que em breve todos poderiam desfrutar dos frutos do progresso.
Uma vez que na base de todas essas mudanças encorajadoras estava o desejo de receber prazer na sua forma quebrada e autocentrada (e num grau ainda maior do que antes), os Cabalistas responderam a essa explosão como a uma chamada para a ação. Os Cabalistas sentiram que, com as novas possibilidades oferecidas pela tecnologia e pela ciência, bem como com o desejo aumentado para a autoexpressão, um novo método de correção era necessário.
Assim, eles começaram a afirmar que era hora de sair e mostrar ao mundo a sabedoria há muito oculta do Zohar. Sem isso, afirmaram, o mundo não iria ver uma conclusão positiva no final da nova era. Nas palavras do Gaon de Vilna (GRA), que numerosos Cabalistas ecoaram, a "Redenção (do egoísmo) depende do estudo da Cabalá.".
"Como o Renascimento Terminou a Ocultação da Cabala" é baseado no livro, Interesse-Próprio Vs. Altruísmo por Dr. Michael Laitman