Na Cabalá existe algum tipo de meditação, contemplação ou concentração interior? Como ela difere da meditação oriental?
Essa é uma ação completamente diferente. A “meditação” Cabalística é a criação de intenções. A diferença é que, com as intenções, eu concentro meus esforços internos na conexão com os outros para me unir de forma prática com as pessoas que aspiram à unidade entre nós. Nós queremos revelar o poder da unidade e do amor nessa unidade.
Em outras palavras, na Cabalá uma pessoa não está isolada do ambiente, mas, pelo contrário, procura tanto quanto possível se conectar internamente com ele.
Nos métodos orientais, a pessoa pode meditar sozinha, não precisando de mais ninguém. Mesmo que as pessoas se reúnam para essa meditação, não há nenhuma conexão prática entre elas. O método da Cabalá sugere que é dentro do grupo que estamos à procura de uma oportunidade de nos sentir como um só homem.
Somente sob a condição de que podemos alcançar essa unidade como um homem, é que podemos dizer que todos perdem seu senso de “eu” e estão incluídos no “nós”; e quando esse “nós” se torna “um” com a ajuda dessa força única, nós revelamos o nível espiritual.
Para fazer isso, todos devem praticamente anular seu egoísmo dentro do grupo, anular-se completamente perante os outros. Ele anula o seu “eu” e aceita os amigos, em vez de si mesmo.
Assim, ele sai de si mesmo a eles, para que o seu “eu” anterior, que supostamente existia separadamente, individualmente, desapareça completamente, e ele se sinta numa nova realidade inseparável dos outros.
Esse sentimento não existe em nosso mundo e só pode ser conseguido através de uma força superior especial da natureza. É o principal motor do método de correção.
A meditação ajuda a pessoa a relaxar e contemplar a si mesma e o mundo a partir de um relaxamento interior. No entanto, de acordo com as definições Cabalísticas, essa atividade não é espiritual!
Somente na sabedoria da Cabalá existe o poder da Luz que pode levar uma pessoa do desejo de receber ao desejo de doar. Quando uma pessoa elimina o seu ego, ela sente que o mundo inteiro é um único sistema, mas não pode controlar esse sistema.
Os Cabalistas criam “intenções”, concentrando sua energia na conexão com os outros, para descobrir a força superior. Num grupo cabalístico, as pessoas trabalham juntas na transição do “Eu” para “Nós” para “Um”, com a ajuda do poder da Luz; isso é algo que não existe em outros métodos. Os níveis de subida são descritos em detalhe nos livros de Cabalá.
A sabedoria da Cabalá não suprime o ego; pelo contrário, faz uso de toda a sua intensidade. Essa sabedoria é para aprender a receber corretamente: na “linha média”, integrando-se o poder da recepção e o poder da doação encontrados na natureza e expandi-los sem limite, de modo que mereçamos receber da melhor maneira.
Os métodos orientais decorrem de Abraão que deu presentes às concubinas e enviou-as para o leste. Abraão queria que elas tivessem algo que lhes permitissem gerir com o ego até que chegasse o momento de corrigi-lo.
Aqueles que estavam prontos para a correção se tornaram seu aluno e ele os ensinava a Cabalá, como cumprir “Ame teu amigo como a ti mesmo”.
Através da conexão entre nós, nós voltamos ao estado anterior à quebra da alma geral e nos tornamos como um só. Quando nossas partículas internas se conectam novamente num único sistema, a força do Criador é revelada nele. Essa é a razão que deveria haver um grupo de pessoas, um Minyan.
Nós não anulamos o ego, mas subimos sobre ele. A natureza nos desenvolve rumo à perfeita conexão e unidade, quer queiramos ou não, se a entendemos ou não. Essa é a evolução. A conexão é realmente construída usando o ego de uma nova forma, oposta à natural.
Na meditação Cabalística, se você a chama assim, a pessoa pode ser mantida na sensação de uma vida plena.
A pessoa sente uma nova dimensão na sua conexão corrigida com os outros; a Luz, a força de doação, é revelada nela. Há mundos superiores que existem acima do tempo, espaço e movimento, os mundos de Assia, Yetzira, Beria, Atzilut, Adam Kadmon e Ein Sof (Infinito). Uma pessoa pode ter constantemente a sensação de plenitude através da meditação Cabalística, se você a chama assim. Quando você estuda a sabedoria da Cabalá, você não renuncia a vida comum, mas trabalha em conexão com os outros e descobe a força superior.
Nos workshops de conexão de acordo com a Cabalá, nós debatemos questões relacionadas com a conexão entre nós e nos conectamos no centro do círculo. Num workshop de conexão nós devemos pensar em como eu posso ajudar todos a se conectar e sentir a força superior nessa conexão.
Por dezenas de milhares de anos até hoje, nós temos nos desenvolvido pela vontade do destino e praticamente alcançamos pouco. A psicologia, a ciência sobre o homem, sua natureza e mundo interior, tem apenas cerca de cem anos de idade. Antes de sua existência, nós não achávamos necessário estudar nosso comportamento e nos desenvolvíamos como animais, por acaso. Só agora nós sentimos a necessidade de conhecimento sobre os seres humanos, a sociedade, o ambiente, como criá-lo e como organizar a nossa vida corretamente.
O próprio conceito de “vida fora do corpo” soa como misticismo, mas não tem nada a ver com isso. Significa desenvolver a capacidade de olhar para si mesmo como que de fora, vendo o mundo através dos olhos de outra pessoa. Fazendo isso, nós adquirimos a capacidade de compreender o outro. E isso é exatamente o que precisamos para conseguirmos fazer isso.
É quase impossível para os homens olhar o mundo através dos olhos das mulheres. Mas quase todo mundo vive numa família e entende a necessidade de criar uma; caso contrário, estaríamos extintos como os dinossauros. Nós somos obrigados a ter filhos e criá-los. Portanto, é importante entender a psicologia do sexo oposto e saber não só como viver corretamente, mas também como desfrutar a vida.
Ao nos tornarmos incluídos um no outro, nós encontramos a outra metade do mundo. Nós somos construídos assim. E isso é chamado de “vida fora do corpo”, isto é, nós obtemos uma percepção adicional de fora. Até agora, eu me desenvolvi egoisticamente dentro do meu corpo e tentei satisfazer meus desejos o máximo possível e levar em conta os conhecimentos, a opinião e pontos de vista da outra pessoa o mínimo possível. Hoje, a crise que envolve o mundo inteiro, me obriga a fazer parte do outro e aceitar o seu ponto de vista, sua opinião e seu mundo interior. Então, eu aparentemente saio de mim e me torno parte de outras pessoas. Assim, eu adquiro os desejos e pensamentos de toda a humanidade, todas as suas possibilidades, como se eu deixasse o meu próprio corpo e alcançasse a capacidade de sentir toda a realidade.
Aqui, a era antiga está dando lugar para a nova, uma percepção completamente diferente da realidade. Agora, eu tenho a oportunidade de ver e sentir a realidade não dentro da minha percepção estreita, mas através de um sentimento coletivo e da compreensão acumulada por toda a humanidade.
Se eu me aproximo de todas as outras pessoas e sou criado numa sociedade apresentada em toda a sua amplitude e diversidade, eu adquiro a capacidade de ver a vida em todo o espectro de sensações e percepções, em vez do meu espectro individual. Afinal, agora eu incluo todas as pessoas, e minha palheta de cores do mundo se torna muito mais rica.