14 de Dezembro, 1965
Deixa-me clarificar um pouco a respeito de tua pergunta, “O
que é a decoração no ponto do desejo,” que disseste te ser muito difícil
compreender.
Para compreender o sentido da decoração primeiro devemos
entender a que coisas nos referimos, ou seja o que é perplexo para ele e aquilo
que ele quer explicar.
Sabemos que há somente duas coisas no mundo: Criador e as
criaturas. Significa isto que o Criador quer doar prazeres sobre as criaturas,
como está escrito, “Seu desejo de fazer o bem às Suas criações.” A partir desse
discernimento, o primeiro mundo que emergiu é chamado “o mundo de Ein Sof[sem fim],” que
significa que uma vez que Ele deseja fazer o bem, Ele criou em “existência a
partir da ausência” um desejo de receber prazer que Ele quer dar.
É claro, esse desejo foi precisamente do tamanho adequado
para a recepção de toda a luz, pois inversamente, ou seja se o Kli [vaso] for mais pequeno que a luz, a
criatura não vai surgir inteira e certamente o Criador criou algo inteiro, ou
seja que Ele criou um desejo para receber essa luz especifica que Ele alocou
para as criaturas.
E de acordo com esse desejo, a luz se propagou e o
preencheu completamente. Isto é considerado a luz superior preencher o todo da
realidade, que é o porquê de ser chamado Ein
Sof, uma vez que a vontade de receber não colocou um impedimento e
conclusão sobre a luz, mas em vez disso se expandiu para o vaso de recepção.
Isto é, tivesse esse discernimento sido retrocedido, não haveria espaço onde a
Divindade fosse sentida no mundo. Até quando Adão estava imerso na cobiça pela
recepção de prazeres só para si mesmo, ele ainda sentia a Divindade. Somente
assim que a Tzimtzum [restrição] sobre receber com a
intenção de somente para si mesmo tomou lugar, veio a ser que aquele que está
imerso na cobiça não sinta a Divindade e o começo do nosso trabalho é acreditar
que há Divindade no mundo. Isto assim é por causa da ocultação que foi feita
pela Tzimtzum.
Aprendemos que no mundo de Ein Sof, “surgiu na Sua vontade
… e Ele se restringiu a Si Mesmo.” Ele interpreta que com isto pretende dizer
que houve uma ascensão do desejo, uma vez que a vontade de receber é oposta ao
desejo de doar, que é o porquê de ele ter escolhido mais Dvekut [adesão]. Dvekut significa equivalência de forma e ele quis
ser semelhante ao dador, então se restringiu a si mesmo. Significa isto que em Ein
Sof parece ter havido contrariedade
entre o Kli e o dador
ao ponto que Ele a teve de corrigir e que para esta correcção ele teve de
definir a Tzimtzum.
Ele introduz Pirkei
de Rabbi Eliezer, onde está escrito que antes do mundo ser criado havia “Ele
e Seu nome são um.” Significa isto que não havia diferença entre a luz, que é
chamada “Ele,” e “Seu nome,” que é o Kli,
ou seja a vontade de receber. Ele interpreta que oKli é chamado “Seu nome” pois Shmô [Seu nome] em Guematria é Ratzon [desejo]. Mas de acordo com isto, isso
é perplexo, pois se não havia oposição entre o Kli e a luz, por que houve uma
necessidade de realizar uma correcção para que haja equivalência, ao ponto que
por esta razão ele tenha realizado a Tzimtzum?
É por isso que ele explica que esta correcção foi não devido a uma carência,
onde ele sentiu que havia oposição, mas em prol de decorar.
Nós podemos enteder a diferença entre decoração e uma
carência numa alegoria. O rabbi de uma cidade fez uma convenção e pediu a todas
as pessoas ricas e respeitáveis na cidade para se reunirem na sinagoga, pois
ele queria vender-lhes algo. O rabbi chegou ao palco e deu um sermão sentido
sobre a grandeza e importância da caridade. Posteriormente ele lhes disse que
dado que um bom homem, um sábio discípulo, havia acabado de chegar do
estrangeiro e ele tinha crianças e oito na família e não tinham comida para
sequer uma refeição, lugar para ficar e a família estava agora na secção de
mulheres da sinagoga, então ele gostaria que cada um doasse um pouco mais que
ele pode pois é realmente uma questão de vida ou morte, pois não têm lugar para
ficar. E o rabbi chorou amargamente.
Naturalmente, as pessoas de Israel são todas
misericordiosas e cada um deu mais que podia e ele colectou milhares de libras
para essa família, uma vez que todos sentiram a carência e desta forma todos
participaram no remendar da carência que sentiram.
No ano seguinte, o rabbi reuniu os poderosos e respeitáveis
da cidade e deu-lhes outro sermão sentido e chorou e suspirou tão amargamente
que podia quebrar o nosso coração. Ele deixou-os saber do mérito do Mitsva [boa acção/mandamento] da misericórdia
— que através da misericórdia sairemos do exílio e seremos recompensados com a
redenção completa.
Posteriormente ele lhes disse que sua esposa estava num
casamento de um homem rico que veio dos Estados Unidos e ela viu que a esposa
do homem rico vestia uma pele cara de 3,000 libras e um anel de diamantes que
custava outras 3,000 libras, então agora ela lhe pede que compre estas jóias
por 6,000 libras. O rabbi chorou amargamente e lhes pediu que tivessem
misericórdia dele e lhe dessem essa quantia. Ele não lhes teria pedido caso não
tivesse visto que no ano passado lhe deram 6,000 libras pelo pobre homem para
que ele conseguisse passar bem com sua família e assim deve ser pois eles têm
corações misericordiosos, então ele lhes pede essa quantia para as Jóias para
sua esposa, então ele chorava e gritava, “Judeus, Ó misericordiosos Judeus!”
Naturalmente, quanto mais o rabbi chorava, mais eles se
riam dele e diziam, “Devemos ter pena de tua esposa por ela se querer decorar a
si mesma? Que misericórdia há aqui? Com o pobre homem havia necessidade e isto
é chamado uma ‘carência’. Todos sentimos a carência, então cada um de nós se
sentiu obrigado a remendá-la.”
Desta alegoria podemos entender a diferença entre carência
e decoração: uma carência é quando ele está nu e destituído; quando podes falar
de misericórdia. Mas quando tens um lar abastado mas sem jóias, que são
acessórios que só alguns na geração têm, não podes falar de carência, uma vez
que eles podem viver sem isso, também.
É semelhante aqui. A luz preencheu a inteira vontade de
receber até que não houvese lugar vazio, sem abundância, como está escrito que
a luz superior preencheu a realidade inteira e não havia vazio. Isto é chamado “Ele
e Seu nome são um,” quando não há diferença discernida entre a luz e o Kli, uma vez que sem um Kli, a luz não seria capaz de
se expandir, dado que o desejo de fazer o bem às Suas criações não seria capaz
de trabalhar sem a existência do desejo de receber. Desta forma não havia
distinção entre a luz e o Kli,
pois ambos são igualmente importantes em respeito à meta.
Isto levanta a questão, “Por que houve uma Tzimtzum?” A resposta para isto
é que a Tzimtzumfoi em
prol de decorar. Isto significa que decorações são necessárias em prol de
melhorar o presente. Embora agora ele tenha abundância pois a luz preenche o Kli inteiro, é ainda possível
torná-lo melhor, ou seja que a recepção da abundância não será considerada
recepção, mas doação, ao torná-la recepção em prol de doar, que é considerado
verdadeira doação.
É por isso que a Tzimtzum é considerado livre arbítrio, ou seja que ele
teve a escolha de não realizar uma Tzimtzum, pois quem o
forçou? Afinal lhe foi dado e ele recebeu e se ele quisesse, podia permanecer
nesse estado e ter abundância. Porém, ele escolheu que é melhor realizar uma Tzimtzum e receber somente em prol de doar, pois com
isso ele seria igual ao Emanador.
Apenas posteriormente, depois da Tzimtzum, se tornou uma
carência, pois é uma regra que um desejo no superior se torna uma lei
mandatária no inferior. Assim, o inferior já não tem escolha, ou seja que até
se ele quiser, não lhe é dado. Sucede-se que agora, depois da Tzimtzum, a vontade de receber
é considerada uma carência pois não podes mais receber qualquer coisa nela e
ela é discernida como trevas. Somente quando começando a fazer as coisas em
prol de doar começamos a equalizar em forma e começamos a sair da regra da Tzimtzum. Então começamos a
sentir a Divindade, à medida que conseguimos trabalhar em prol de doar.
Se tiveres mais perguntas sobre esse tópico escreve-me os
lugares que aches confusos e tentarei explicar no melhor de minha habilidade.
Mas principalmente, devemos esperar que o Criador dê e doe sobre nós a razão do
superior para que possamos entender e aprendemos a escutar, a aprender e a nos
ensinarmos a nós mesmos, a manter e a observar.