O que você pode nos dizer sobre o dia 17 de Tamuz?
Todo o período após o feriado de Shavuot e a entrega da Torá, ou seja, a “descida” do sistema de unificação e elevação acima do ego humano, é retratado por nós como uma fase muito complexa. É impossível simplesmente conseguir a realização do método de correção entre o povo judeu ou toda a humanidade sem complicações sérias. Nós vemos que cada ação, até mesmo a melhor, deve começar com um sofrimento, um impulso, um entendimento de que ela não pode ser realizada, que exige sacrifícios, e isso representa, especificamente, os eventos do 17 de Tammuz que fornecem uma resposta a esse assunto.
O 17 de Tamuz é uma data trágica na história do povo judeu. Foi o início da destruição do Beit HaMikdash (Templo) em Jerusalém. Em todas as épocas essa data foi marcada pela tristeza. Ela simboliza o começo de se tornar-se consciente da nossa incapacidade de realizar o plano da criação, ou seja, a correção direta da natureza humana.
Afinal, para corrigi-la, devemos incorporar todas as nossas características com as do Criador. Esse é um ponto muito interessante porque não há nada de positivo sobre nós!
A incorporação das características positivas do Criador com as características negativas da pessoa, a fim de mudar a sua forma a partir de uma “confusão”, só pode acontecer com destruição, com uma quebra. Caso contrário, é impossível reunir as duas características, as duas categorias opostas.
Isso é conseguido apenas através de uma “explosão”, como na formação de ligas metálicas ou na formação de uma mistura de óleo e água. É realizado somente através de uma colisão forte e agitada.
É assim como as paredes do Templo foram desintegradas e, em seguida, o próprio Templo foi destruído. Tudo foi quebrado e moído em pó! Então, por milhares de anos, o povo judeu suportou muito sofrimento, incluindo o Holocausto, expulsão, extermínio e pogroms.
Nós chegamos a um estado onde, através do estudo da sabedoria da Cabalá, sob a influência da Luz Superior, nós estamos começando a diferenciar a verdadeira bondade da maldade, as características do Criador das características da criatura. Ao separar e corrigi-las, nós as colocamos como duas linhas umas contra as outras e permanecemos na linha média entre elas, combinando bem e mal na correta relação recíproca uns com os outros.
O 17 de Tammuz (Yud-Zayin Tammuz) representa o início da quebra explosiva através e pelo poder da entrada mútua das duas propriedades opostas do Criador e da criação.
O egoísmo e as características do Criador (a propriedade de amor e doação) podem existir separadamente por si mesmos. Mas quando eles entram em contato, uma explosão ocorre sem a qual é impossível reconhecer o mal da nossa natureza e começar a sua correção.
É nessa entrada explosiva das forças do bem na força do mal, que têm dentro delas as chamadas Reshimot, registros informacionais pelos quais gradualmente, com a ajuda da Luz Superior, é possível colocar o ego no menor estado e obriga-lo a servir a bondade das características de doação e amor, uma vez que não se pode fazer qualquer coisa.
Portanto, do ponto de vista da sabedoria da Cabalá, estes são períodos essenciais. Eles existiam desde o início dentro do plano da criação, mesmo antes de sua realização em nosso mundo, começando com o cerco do Templo em Jerusalém seguido por sua destruição.
Nós já passamos por tudo isso, e agora, se nos comportarmos corretamente, poderemos esperar apenas bons tempos de correção e a realização correta das Reshimot que são encontradas dentro do nosso egoísmo.
Para isso, devemos atrair a Luz Superior para sermos capazes de distinguir com a sua ajuda onde há uma característica má e onde há uma característica boa, como separar entre elas, e a forma de corrigir uma em relação à outra. Se abordarmos a correção corretamente, nenhum mal mais será revelado no mundo, porque todas as características negativas da criatura já foram reveladas no passado.
A sabedoria da Cabalá nos possibilita começar com uma limpeza fundamental e o esclarecimento de nossas características, para avaliar de forma clara os estados que atravessamos, para escolher o lado positivo em relação ao negativo, e para colocá-los corretamente um diante do outro.
Assim, a partir da conexão entre eles, poderemos construir um único campo e uma conexão correta entre nós que será chamada de “Terceiro Templo”, o desejo comum que irá revelar a força superior e um novo nível de existência para nós.
Eu espero que esses dias sejam usados como um impulso para reconhecer o que está acontecendo e que as pessoas comecem com uma correção para se mover correta e facilmente pelo esclarecimento do mal em sua natureza.
É dito no dia 17 de Tammuz, que Antíoco Epifânio queimou a Torá e trouxe a estátua de um ídolo para o Templo. Se olharmos para isso de uma perspectiva espiritual, o que isso significa?
A Torá não se refere simplesmente às tábuas ou um rolo de papel com algo escrito nele. A Torá é Luz, uma força espiritual que desce de um nível superior que está cheio de amor e doação até pessoas que aspiram por esse nível.
O Templo se refere ao coração de uma pessoa. O fato de que uma pessoa está acima do seu egoísmo é chamado de santidade. Assim, quando o estado de amor e doação desaparece, a Luz Superior, a Luz de Hassadim (Misericórdia) desaparece e a santidade também desaparece, e em vez disso, a estátua de um ídolo (de egoísmo e amor próprio) é colocada no templo, que significa em nossos corações.
Esta é a razão dos seres humanos se curvarem aos ídolos. É claro, nós devemos purificar profundamente nossos corações, nossos atributos, nossas intenções e nossos sentimentos de todos os ídolos egoístas até que sejamos capazes de apontar nossos desejos na conexão integral entre nós, de modo que cada um de nós vai pensar apenas no bem-estar dos outros.
A queda do nível sagrado de conexão também é um ato de destruição?
Sim, mas ele é essencial, pois, caso contrário, o Criador não será capaz de inserir seus atributos na criatura. Os atributos devem ser opostos e, ao mesmo tempo, incluir um ao outro dentro deles: o Criador deve incluir os atributos da criatura, e a criatura deve incluir os atributos do Criador.
Assim, eles vão começar a criar atributos que entram em contato, que podem se assemelhar um ao outro, um oposto ao outro; o Criador desce até a criatura graças à incorporação dos atributos da criatura dentro Dele, e a criatura pode subir, pelo menos um pouco, acima da sua vida, o que significa acima de seus atributos e desejos, e chegar ao nível do Criador.
Assim, eles cooperam mutuamente. Isso resume todo o princípio da correção chamadaTzimtzum Bet (a segunda restrição).
É importante dizer que a penetração mútua dos atributos opostos não decorre do dia 17 Tammuz ou do dia 9 de Av, mas do pecado de Adão, porque é lá que existe o sistema de conexão mútua e equivalência de forma da criatura com o Criador graças ao pecado e o choque dos atributos polares.