"Vem ao Faraó, pois Eu endureci seu coração e o coração de seus servos, para que Eu possa colocar estes sinais Meus dentro dele."
Os intérpretes questionaram sobre as palavras, "Eu endureci": Uma vez que o Criador lhe deu o endurecimento do coração, ou seja que o Criador lhe negou a escolha, por que é isto culpa dele? Eles também perguntaram sobre as palavras, "Vem ao Faraó": Deveria ter dito, "Vai ao Faraó," uma vez que "vem" significa "Vamos juntos," ou seja que o Criador irá junto com Moisés.
Para entender o citado, devemos precedê-lo com aquilo que está escrito, "Nossos sábios disseram, 'Uma pessoa sempre se deve ver como meio culpada, meio inocente. Se ela realiza um Mitsvá [mandamento], feliz é ela pois ela se sentenciou para o lado do mérito’” (Kidushin 40b).
Devemos questionar, 1) Como pode uma pessoa dizer que ela é metade... enquanto ela sabe sobre si mesma que tem mais transgressões que Mitsvot [plural de Mitsvá]? 2) "Se ele realiza um Mitsvá," eles disseram que ele se sentenciou para o lado do mérito. Mas eles disseram, "sempre," ou seja que até depois de ele se ter sentenciado para o lado do mérito, ele também se deve ver como metade e metade, como se pode dizer tal coisa se ele já realizou um Mitsvá? 3) Se ele sabe que tem mais méritos que iniquidades, por que deve ele dizer "metade e metade"?
Disseram nossos sábios, "Qualquer um que seja maior que seu amigo, sua inclinação é maior que ele” (Sucá 52a). Devemos questionar por que merece ele tão duro castigo se ele é maior, lhe é dada mais inclinação do mal que é dada a uma pessoa pequena.
A questão é que nossos sábios vêm para nos ensinar no caminho do trabalho do Criador, para nos aconselhar a como sair da autoridade da inclinação do mal. Portanto, eles nos instruíram que a pessoa não deve dizer que uma vez que ela tem poucos méritos e muitas iniquidades, ela não consiga mais decidir que daqui para a frente eu vou percorrer o bom caminho, uma vez que ela está sob a autoridade do mal por ela ter muitos defeitos e poucos méritos e ela conclui que tudo isto deriva de ela nascer com más qualidades e não ter meio de sair do governo do mal.
A escolha que é dada à pessoa, para decidir para o lado do mérito, pertence especificamente a aquele em quem os poderes do bem e do mal são iguais. Nessa altura, é possível decidir para o bem. Mas para aquele cujo mal é maior que o bem, ele não consegue mais decidir.
Disseram nossos sábios sobre isto: "Uma pessoa sempre se deve ver a si como metade culpada," como em "Aquele que é maior que seu amigo, sua inclinação é maior que ele," uma vez que se alguém se torna grande e permanece no mal de antes de ela se tornar grande, ela terá muito bem e um pouco de mal e desta maneira, é impossível tomar uma escolha, uma vez que tal como não pode haver escolha se o mal é maior que o bem, não pode haver escolha se o bem é maior que o mal.
Portanto, aquele que é grande, cujo bem é grande, seu mal deve ser aumentado do alto, para que ele tenha exactamente a mesma medida que o bem. Depois, quando as duas são iguais, pode haver uma escolha.
Portanto se sucede que se uma pessoa vir que seu bem é muito pequeno, ela deve saber que seu mal é também muito pequeno. Embora ela saiba que ela cometeu muitas transgressões, ainda assim deve saber que do alto, o mal nela foi diminuído porque o bem nela foi diminuído, para que ela seja capaz de fazer uma escolha. Quanto às más acções que ela fez, há correcções para isto, através do inferno ou através do arrependimento por temor ou por amor.
Mas em relação a fazer, daí para a frente há correcções que diminuem o mal para que não seja maior que o bem, para que ela seja capaz de escolher.
Portanto, a pessoa sempre consegue escolher, dado que antes de ela realizar um Mitsvá, a autoridade do mal não é maior que a autoridade do bem embora ela tenha muitas más acções. Depois de ela ter realizado um Mitsvá e ter decidido para o lado do mérito, seu mal é aumentado, ou seja que o mal é fortalecido de modo a governar na mesma medida que o bem. Sucede-se que então, também, ela é metade e metade.
Com isto entenderemos o versículo, "Vem ao Faraó, pois Eu endureci seu coração." Assim que Faraó se sentenciou a si para o lado do mérito, dizendo, "O Senhor é justo," ele era grande. Portanto, ele não podia mais tomar uma escolha. Por esta razão, houve uma necessidade para o Criador endurecer seu coração, ou seja aumentar o seu mal, dado que somente desta maneira há espaço para a escolha.
Sucede-se que através do endurecimento do coração, a capacidade de escolher não lhe foi retirada. Pelo contrário, aqui lhe foi dada a possibilidade de tomar uma escolha.